sábado, 11 de setembro de 2010
Quando a Lei Sobrepõe o Bom Senso
Desde o dia 1º de Setembro o uso de cadeirinhas e assentos de elevação são obrigatórios nos veículos, salvo algumas exceções. Particularmente sou solidário a esta lei, uma vez que ela visa incrementar a segurança das crianças que viajam junto aos seus pais. Porém temos dois problemas gravíssimos: preço e disponibilidade.
Os assentos de elevação - que partem dos R$ 90,00 - praticamente não existem no mercado. Algumas lojas relatam que há mais de dois meses não recebem nenhum exemplar - e não há sequer previsão do fornecedor. A solução é partir para os modelos mais caros, que chegam até a custar mais de R$ 700,00, onde até pode existir algum conforto a mais, entretanto possuem a mesma funcionalidade.
Eu não sei se vocês enxergam da mesma maneira que eu, mas vejo aí um oportunismo descarado num setor sem nenhuma fiscalização aparente: enquanto houver vendas de assentos na casa dos R$ 700,00 o modelo mais barato não será fabricado. É a tal da lei da oferta e procura, regra do bom capitalismo selvagem. Obviamente o setor não irá expandir a sua infraestrutura para atender o mercado, visto que o investimento seria alto demais para uma oferta temporária - logo a febre passará e o investidor ficará com um grande elefante branco sem demanda suficiente para utilizar a sua suposta nova estrutura.
Então o importante é lucrar com o desespero do consumidor. Há relatos de compradores que optaram por pagar o triplo do valor mais barato justamente para não ser multado. Alguma blitz policiais foram noticiadas pela imprensa aumentando ainda mais a angústia e a tensão daqueles que precisam transportar os seus filhos em seus veículos. Isto encurrala os pais a tomarem a decisão de extrapolarem o seu orçamento e engordar ainda mais a máquina capitalista que comanda as rédeas do universo.
Pior, não há mais vantagens em comercializar o dispositivo mais barato, visto que agora é lei. Num período anterior, havia exemplares mais baratos justamente por que não havia a obrigatoriedade da aquisição, então reduzia-se a margem de lucro como atrativo para uma aquisição. Com este exemplo entendemos que somos vítimas de um capitalismo imoral: o que rege o valor da mercadoria não envolve somente o custo e a margem de lucro, mas a procura pelo produto, pois nada consegue me fazer entender o que faz um assento custar R$ 90,00 e o outro R$ 700,00.
Aqueles que possuem três filhos pequenos irão fazer como? Arcar com R$ 2100,00 para atender as exigências? Claro está que a lei é observada com bons olhos por todos, mas há aqueles que não tem condições de assumir o compromisso de um valor tão alto a curto prazo - não cabe aqui expor os motivos. Há outros ainda que querem adquirir o modelo mais barato, afinal estão no seu direito. Agora o que não podemos ser condizentes é com a falta de fiscalização do governo no abastecimento das lojas. Se ele quer cobrar de nós, sem problemas, mas que antes cobrem os fornecedores.
Acontece que ainda não temos previsão de quando os assentos mais baratos estarão disponíveis, e a lei está em pleno vigor. Deveria haver bom senso por parte do governo, afinal os assentos podem ser obrigatórios, mas ninguém é obrigado a ser rico ou a pagar o que preço que querem. Então, ao invés de incetivarem as multas, ofereçam endereços com lojas que possuem o dispositivo a pronta entrega. Se o veículo for reincidente na orientação, podem multar pelo dobro do valor sugerido para a multa.
O que parece - não seria a primeira vez - é que tudo faz parte de um complô para arrancar mais dinheiro ainda da população (o que faz nós desconfiarmos do propósito da elaboração da lei): enquanto o comércio ganha rios de dinheiro em cima de um terror generalizado, o governo arrecada com as multas distribuidas simplesmente por que não temos aonde comprar aquilo que foi estipulado.
Se o principal argumento é a segurança das crianças, observada a dificuldade dos pais, não seria custoso montar uma lista pública hospedada em sítio na internet com telefones daqueles que possuem o dispositivo em estoque. Nem seria necessário que o governo mantivesse esta lista, mas que cedesse o espaço para ofertar os produtos. Porém é mais fácil e rentável punir.
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