domingo, 31 de julho de 2011

A Queda da Casa de Usher


Dizem que A Queda da Casa de Usher, um conto criado por Edgar Allan Poe, é o texto mais adaptado para as telinhas de todos os tempos. Não sei o quanto isto é verdade, mas o fato é que no IMDB a personagem de Roderick Usher aparece em 18 produções! A cada dois-três anos, alguém aparece readaptando a obra para o formato.

Esta versão, que irei discorrer aqui, se trata da primeira adaptação para a televisão, realizada pelo cinema francês em 1928, na época do cinema mudo e em preto e branco. Ela não inteiramente fiel ao texto de Poe, entretanto é uma boa adaptação, sendo que os elementos macros estão todos lá.

O filme começa com Allan indo ao bar procurando pela casa de seu amigo Roderick Usher, que havia lhe escrito um bilhete solicitando sua visita, visto que ele estava doente. Entretanto a casa não é bem vista pelos moradores das regiões – todos ficam assustados somente pela menção da residência, sendo que ninguém se propõe a ajudar o perdido a chegar ao seu destino.

Somente quando oferece dinheiro é que alguém se dispõe a levar Allan ao local, mas não exatamente como devia ser: o empregado leva Allan somente até um local onde é possível ver a casa, dali em diante o empregado se recusa a seguir adiante.

O local realmente é assustador! Todo entorno que envolve a casa é sombrio, diante de uma ventania que parece fazer com que, mesmo o chão, se mexa constantemente. Tudo no cenário ganha movimento, seja pelas deficientes técnicas de filmagem disponíveis na época, seja proposital.

Allan é recebido por Usher, que está pintando um quadro quase vivo de sua esposa – uma tradição da família passada por gerações. O que Usher não percebe é que a cada pincelada, sua esposa vai se deteriorando e ficando cada vez pior. De fato, quanto mais real o quadro fica, mais a sua esposa vai desaparecendo no mundo.

Entretanto, dada a obsessão de Usher com o quadro, numa relação de intimidade que acaba por se tornar mais intensa do que com a própria esposa, ele perde a noção de tudo quando está diante do quadro. Prova disto é o amigo Allan, que basicamente representa os nossos olhos no interior da casa de Usher. De alguma maneira ele entende que o seu amigo está ficando insano.

Agora insanidade mesmo é ficar naquela terrível casa: ela parece ter vida própria. Cortinas se mexem desenfreadamente, uma ventania adentra cada cômodo da residência, sendo que eles são enormes e vazios, enfim, são cenas pra lá de amedrontadoras – cujo efeito é atenuado pelas câmeras da época, que não se estabilizam por nada, além de não revelar inteiramente o que está acontecendo: de fato, me peguei por mais de uma vez cerrando os olhos para tentar enxergar o que está sendo mostrado.

Durante a história a ultima pincelada no quadro leva a sua esposa a própria morte, sendo que Usher fica totalmente inconsolável e passa a acreditar que ela não está morta de forma alguma. A impressão que fica é que o retrato pintado é o coração da casa, que uma vez completo, deseja Usher toda para si mesma. Sendo assim, ela acaba por dar um jeito de expulsar a esposa dali.

Mas Usher não pretende simplesmente ficar ali parado: ele vai até o local onde o corpo de sua esposa foi levado, de modo que tenha a certeza de que lá ela está. Entretanto não é que o homem tinha razão? Sua esposa está viva! Ou então, uma morta-viva... Quero acreditar mais na primeira hipótese.

Entretanto, ao voltar com a esposa para casa, a mesma fica com um ciúme tão grande que passa a se autodestruir. A casa passa a ficar em ruinas e é assim que acaba a história, que na verdade nada mais era do uma história de amor entre uma casa e seu dono.

Como dito, não sei se a técnica empregada foi proposital ou era proveniente dos recursos da época, mas o fato é que o resultado é incrível! Nenhuma outra adaptação foi tão bem recebida pelos entusiastas do cinema – mesmo com tanta tecnologia envolvida. Enfim, um clássico do terror gótico.

Este filme foi visto no NetMovies OnLine para Televisores com acesso a internet. Clique aqui para ler a minha resenha a respeito do serviço.

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