segunda-feira, 9 de junho de 2008

Introdução ao Existencialismo


Você algum dia já se questionou o porque de tanta barbárie no mundo? Como pode o ser humano em determinados momentos ser tão cruel, como no caso de Gertrude Baniszewski, que torturou uma menina até a morte sem que ela não cometesse nenhum crime? Ou então numa situação de guerra, onde um soldado simplesmente tira a vida de outro homem, como se o finado fosse um objeto sem valor, sem paixões e sem história?

Afinal o que é a vida e qual é o seu sentido?

Foram questões semelhantes a estas que alguns pensadores do porte de Nietzche, Kierkegaard, Sartre e Schopenhauer fizeram e, consequente a esta tormenta, fundaram um movimento que rege influência até os dias de hoje: o existencialismo.

Um dos conceitos mais importantes para entender o existencialismo foi desenvolvido por Jean-Paul Sartre ao afirmar que "a existência precede a essência", ou seja, antes de qualquer coisa o que há é a existência. Primeiro existimos, depois iremos adquirir a nossa essência e nossa formação. Durante o decorrer da vida, somos condenados a sermos livres e, consequentemente, forçados a tomarmos constantes decisões. Ortega y Gasset já havia levantado esta questão anteriormente ao afirmar que o homem não é, ele "vai sendo".

Ainda que o ser opte por não tomar nenhuma decisão, ao se manter no ócio sem fazer nenhuma escolha, isto por si só já é um caminho que ele escolheu percorrer - o de não fazer nada. Ou seja, para o existencialista, o homem é arremessado no mundo e a partir deste abandono, deste silêncio e de sua impotência é que ele se descobre no mundo.

Porém a vida é uma grande irônia, pois por mais que você tente fazer o bem para si ou para os outros, e tentar coloborar positivamente com o mundo, fatalmente todos irão envelhecer e morrer. Perceba como a vida pode ser estranha, sem nexo e sem objetivo. Para que nascer, se fatalmente você irá morrer? E se a vida é sofrimento, porque insistimos em continuarmos vivos? É por isto que para o existencialista, a vida é um grande absurdo e não tem justificativa de ser.

Desta forma, parece até mesmo que o existencialismo é uma corrente ateísta, porém há diversos existencialistas teológicos, como o já citado Kierkegaard. Para ele, a fé guia as decisões do ser e a atividade de tentar provar a existência de um Deus é inútil. Porém é no discurso contra a religião que o existencialismo ganha força: se Deus existe, porque os homens sofrem? Qual a importância de provar a existência de Deus, se é que há a possibilidade?

A vida é uma série de batalhas e a liberdade é uma maldição. Por isto é tão fácil viver numa sociedade estruturada e com um rígido código de regulamentos, pois é mais fácil cumprir ordens do que decidir. Porém é a mesma inautenticidade de vida que lhe faz acordar as sete horas da manhã para chegar a tempo no trabalho e que lhe faz atirar com um fúzil no exército inimigo. Não há culpa, nem questionamentos em nenhuma das situações. Ao contrário, há um certo alívio.
Neste absurdo de viver e nestas arduosas escolhas que a vida nos coloca, nosso blog entra num período existencialista com um pouco mais ênfase. Já havíamos arranhado a superfície com artigos sobre a angústia heideggeriana, o filme "As Horas", uma resenha sobre o livro "O Estrangeiro" de Camus, e agora faremos estudos em outras obras com conteúdo existencialista, principalmente na literatura e no cinema.

Portanto mergulhem neste tema delicioso e influente, que cada vez mais é presente em nossa mente ao nos depararmos com tantos acontecimentos sem lógica e sem sentido, principalmente aqueles que são mais violentos, tanto em âmbito físico como em âmbito psicológico. Talvez a grande vitória esteja em reconhecer este absurdo que é a vida para nos dedicarmos cada vez mais a nós mesmos e cultivar o autoconhecimento, e assim, quem sabe, caminharmos em direção a um significado que esteja presente em nosso interior.

Um comentário:

  1. Sêneca - que não foi um filósofo existencialista - já dizia que as pessoas sentem necessidade de se ocupar com alguma coisa, mesmo que sem nenhum propósito.

    Não deve ser fácil pensar a vida e descobrir que ela, apesar de fantástica, no final, é um absurdo.

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